Os filhos de Egoz
O portal de Oriun
1.
No frio inverno do Alasca, nas montanhas da cidade de Akriok, cuja população não excedia 80 famílias – em um total de 200 habitantes. - Um homem de aparência desgastada, visivelmente entre a idade de 60 anos, com fortes traços orientais, trajando um longo manto amarelado, movimentava-se lentamente, enquanto seguia observando os lindos iglus- esculpidos pela própria neve conservada. O homem montava um enorme urso-de-kodiak, cinzento, criatura poderosa, carnívora e amedrontadora, mas para Joaquim, era um animal de estimação. Montaria doce, mansa - um bom companheiro.
Ao longe, em meio aos respingos de neves, que caiam suavemente sobre o vilarejo desértico, Joaquim observa um homem parado, frente a sua moradia, sem muita pressa se aproxima, logo em seguida inicia um dialogo com o morador local:
- Saudações, meu senhor! Sou Joaquim Yang, descendente do clã sexto, da ordem dos magos de Gyong-ju. Procuro por uma família de sobrenome “Silva” Gisele Silva e Rafael Mello Silva, velhos amigos de longa data. – Ainda frente ao homem, que se mantém calado, Joaquim pausa a conversa por alguns segundos, enquanto expele um sopro quente, bafejando as suas luvas - sujas pelas rédeas que prendia o seu animal.
- Há sim, família Silva. O casal de brasileiros... Caminhe por mais oito iglus nessa direção, a nona moradia é habitado pela família Silva. – Responde o homem, com um sorriso estampado ao rosto, aparentemente uma pessoa amistosa.
Joaquim puxa com força a rédea, o animal se contorce, ficando ereto, antes de partir agradece:
- Qual é a sua graça, meu bom homem?
- Lazaro meu senhor, eu me chamo Lazaro!
- Muito obrigado pela informação, Lazaro, tenha um bom dia! – O grande animal cavalga pelos oitos iglus, até que estaciona frente à nona moradia. Joaquim salta do animal, faz carinho na fera, retira uma garrafa, com um liquido amarelado em seu interior. Vagarosamente leva-o aos lábios, toma um gole demorado, em segui sussurra: “Salve Barbárie” respinga três gotas ao chão “Pro santo”, em seguida deixa (o grande urso de nome Pow) prá trás, até que se vê frente à porta congelada.
Rafael! Ôooo, Rafael...
- Quem é? - Gisele veja quem esta gritando na porta!
- Olá? Quem está ai? – Gisele se aproxima, abrindo a porta se depara com Joaquim – Oi, posso ajuda-lo, meu senhor?
- Gisele?! Não se lembra de mim, sou eu, Joaquim!
- Joaquim... Não o reconheci, está bem mais velho!
Haviam se passado treze anos desde o ultimo encontro entre a família Silva e Yang, muito coisa mudou, principalmente a fisionomia do velho amigo, Joaquim, que agora expelia uma enorme barba branca, tão longa que alcançava a enorme barriga, coberta pela enorme vestimenta de pele de carneiro.
Rafael caminhou em passos largos, próximo ao amigo, se jogou aos seus braços, abraçando-o como se fossem parentes distantes – separados por longas datas:
– Velho amigo, seja bem vindo! O que o trás aqui, tão cedo?
- Serei breve meus amigos, nesse momento eu sugeriria para que se sentassem e se possível, me sirvam uma bebida quente! – Joaquim sorriu – era um homem espaçoso, mas suas próximas palavras, poderia não agradar o casal. Ser hilário naquele momento era válido...
Gisele caminhou até a lareira, onde no canto esquerdo, havia várias latas de alimentos vazias, mais acima, na tabua de madeira verde, que simulava um armário de cozinha. Estocava; café, leite em pó, açúcar, arroz e feijão. Havia também alguns animais cervos, conservados próximos à pequena mesinha improvisada com a cômoda envelhecida (um dos poucos pertences trazidos do Brasil), um friozinho agradável, soprava sobre a testa de Gisele – Que cantava uma bela canção - deixando que a sua voz pairasse rumo à floresta congelada.
- Pronto, o café esta delicioso, sirva-se Joaquim!
Os fiapos de barbas branquejados de Joaquim se movimentaram lentamente – ele sorriu – levou a sua mão até a caneca, despejou o café preto, de cheiro forte, logo se deliciou vagarosamente, “há como é delicioso o café brasileiro”...
Gisele e Rafael se mostravam tensos, enquanto aguardava o velho degustar mais um gole de café. Quando ele finalmente terminou, disse-lhes:
- Agora é serio, eu trago noticias pouco amistosas! – bateu à xícara de café na mesa, Gisele deu um pulo da cadeira, levou a mão ao queixo e fez cara de preocupada. Joaquim fixou o olhar sobre ela, voltou dizer:
- Já, já eu conto. Deixe-me tomar mais uma xícara de café...
Velho ranzinza “pensou Gisele”, mas continuou aguardando as palavras do homem.